Por Elói Corrêa.
Fui assistir e fotografar o espetáculo Momo, criado e encenado pelo ator e jornalista Alberto Silva Neto, inspirado em cartas trocadas entre seu avô e seu pai.
Momo nos leva a uma reflexão sobre a vida e a morte pelas memórias afetivas.
O espetáculo é iniciado e assisto até começar a fotografar, sem imaginar que em um determinado momento, em meio a alguns cliques, uma sensação de angústia tomaria meu corpo. Um misto de emoção, saudade, angústia e sentimento de culpa.
Na cena em que Alberto vela o pai, simbolicamente moldado, recortado em uma folha de jornal sobre a mesa, como um corpo já sem vida, não contive as lágrimas, mesmo que tímidas e discretas. Lágrimas que rolaram suavemente dos meus olhos.
Por que de tudo isso? Explico! Naquele momento, vivia o luto pela perda de minha irmã, que estava prestes a completar trinta dias.
Era um momento em que eu estava me desfazendo de coisas dela. Também buscava papéis, documentos, receitas, fotos. Tudo isso me envolveu em um questionamento sobre esse processo de despojamento e me levou a constatar que estava vivenciando três lutos: o de minha irmã e de meus pais, falecidos há 19 anos. Não acompanhei o velório de meus pais, que morreram num espaço de tempo de sete dias um do outro.
Momo fez com que eu expurgasse todo esse sentimento de culpa e angústia. Me deixou mais leve e em uma reflexão sobre como viver o luto é importante e que jamais esqueceremos nossos entes queridos. E que não podemos deixar de viver, porque a vida segue.
Sentimentos e pensamentos que me levaram à confortante oração de Santo Agostinho: “A morte não é nada. Eu somente passei para o outro lado do caminho”.
Esse pequeno texto é para contextualizar o meu exercício do workshop “Narrativas do afeto”, coordenado pelo querido jornalista, professor e crítico de teatro Kil Abreu.
Meu exercício consiste em reunir algumas falas ditas por Alberto (personagem), ou presentes nas letras da trilha sonora, com as fotos que fiz do espetáculo.