Por Ana Lúcia Ribeiro.
Ao iniciar o processo de escrita da crítica sobre a peça de Elisa Lucinda, paralisei no instante em que me vi embasbacada com a grandiosidade de tudo que meus olhos viram, meus ouvidos escutaram e meu corpo sentiu. Por vezes pensei na arte como algo complexo, distante e, ao assistir Parem de falar mal da rotina, compreendi o que é a arte que “pulsa”.
Essa arte pulsa porque é algo de dentro, mais essencial que água, comida ou abrigo, é uma arte ancestral. Tenho pensado com muita frequência em quando, como, e por que a primeira arte foi feita. Imagino a seguinte cena: está lá o homem pré histórico sem domínio do fogo, coberto por peles de animais para se proteger do frio, ainda compreendendo como se comunicar com os outros homens através de sons e movimentos, no entanto, ele sente essa necessidade de criar. Então ele pega o sangue, resto de gordura, carvão e o que mais tiver à mão e começa o processo de pintar as paredes das cavernas. Ele reproduz cenas do cotidiano à sua maneira, traçando formas jamais vistas, olhando para o mundo de outra maneira. E quando assisti Elisa no palco percebi a mesma pulsão.
A crítica saiu com o atraso de uma semana, pois não tive tempo em meio às outras demandas do cotidiano. Pensei em não escrever, em desistir, mas passei a semana toda lembrando das falas de Elisa. Ela me acompanhou essa semana, ganhou morada em mim. Ela estava lá enquanto ministrava aula de artes. Me acompanhou no almoço quando resolvi escutar a conversa da mesa ao lado. Assistiu comigo a notícia fatídica de um atentado que foi motivado por um ódio sem sentido. Ela mudou meu olhar sobre as coisas, me fez querer escrever, desenhar, gritar. O !Pulsa! é um movimento de arte que propõe isso. Movimentar-se, sair do lugar comum, sentir a arte por entre as veias, experimentar essa arte primordial e necessária que nos faz mover os corpos (e tudo o que neles contiver), pela cidade.